Análise "O Verdadeiro Preco Das Apostilhas
Enviado por mirita123 • 5 de Noviembre de 2013 • 2.141 Palabras (9 Páginas) • 263 Visitas
INTRODUÇÃO
O objeto de estudo do presente trabalho é o ensaio de Osman Lins “O verdadeiro preço das apostilhas”. Na sua análise, se tentará identificar a presença dos traços próprios do gênero ensaístico salientados pelos seguintes autores teóricos: Fernando Savater, Theodor Adorno, Luiz Costa Lima e Rachel Esteves Lima.
Também serão analisadas as marcas do sujeito da enunciação, o eu ensaístico, segundo a perspectiva proposta por Jean-Paul Bronckart.
DESTECENDO O ENSAIO
No título do texto, o ensaísta já coloca a questão do preço das apostilhas, e com o adjetivo “verdadeiro” sugere que há um preço que é certo e outro que não.
No primeiro parágrafo, O. Lins apresenta as funções dos professores. Aí há duas marcas explícitas do eu ensaísta: “segundo pude observar” e “nos fartamos de ver”, dessa maneira é expressamente assinalada a subjetividade do ensaísta que destaca F. Savater quando escreve “Esta cualidad demoledora le viene de su condición inocultablemente subjetiva” (Savater: 5). O texto começa com um período comprido, onde há uma restrição do sujeito do período “As pessoas não familiarizadas com a vida universitária” e logo uma modalização lógica “podem supor”. E imediatamente depois uma negação categórica. Esse contraste entre a extensão dos períodos que se repete em outros trechos do ensaio, lhe imprime uma força bem marcada à exposição e um ritmo muito particular. A seguir novamente se desenvolvem três períodos bem compridos, nos quais há varias modalizações: tendem a consumir (verbo auxiliar), naturalmente, decerto, curiosamente, em geral (advérbios e locuções adverbiais). Nesses períodos há vários advérbios de quantidade (menos, mais) que também constituem marcas de subjetividade, relacionadas com comparações entre os diferentes tipos de professores apresentados pelo ensaísta. Sobre este ponto resulta curioso como Lins repete o advérbio “menos”, justamente para referir-se ao tipo de professor que não se interessa por estudar e criar, e que, por causa desse recurso estilístico, o leitor poderia interpretar como “menos professor” do que o outro tipo descrito pelo ensaísta. Outra marca subjetiva é a expressão colocada entre parênteses, “(que, se não trabalham, consomem tempo)”, que é uma apreciação pessoal de Lins sobre os grupos de trabalho.
No segundo parágrafo o ensaísta se coloca como professor e conta seu caso, afastando-se daqueles professores menos interessados em estudar e criar, que tinha mencionado no parágrafo anterior. Esta perspectiva da abordagem, na qual o ensaísta expressa sua própria experiência, tem relação com o colocado por L. Costa Lima, que cita Lukács “Há vivências [...] que, entretanto, aspiram à expressão.” (Lima; 1993: 90). Há quatro marcas explícitas de subjetividade representadas por pronomes pessoais (oblíquos) e por verbos conjugados na primeira pessoa do singular: “Quanto a mim”, “lecionei”, “furtar-me”, “vi-me”, mas também há outras marcas, como quando menciona “a calma legião dos que não se interessam em produzir” ou na expressão “na medida do possível”.
O terceiro parágrafo é onde Lins começa a estabelecer o tema do ensaio, nas últimas linhas ele menciona “o arraigado menosprezo brasileiro em relação à cultura, ao saber, ao artista, ao escritor, ao trabalho intelectual”. Este parágrafo só tem uma marca explícita do sujeito da enunciação na linha 10, “eu percebi”, porém há vários adjetivos qualificativos como “remuneração ínfima”, “solidão irredutível”, “inapelável isolamento”, “pétreo”, “arraigado menosprezo brasileiro”, que também são marcas do ensaísta, que contribuem a caracterizar essa situação ruim na qual se encontram a educação e a cultura na sociedade brasileira e que Lins desenvolverá no percurso do ensaio.
No quarto parágrafo, o autor restringe o tema à questão das apostilhas, e as qualifica como “praga” e “degradação”. Ele coloca duas marcas explícitas: “por me parecer significativo” (primeira pessoa do singular) e “da nossa vida universitária” (primeira pessoa do plural, cujo referente é os brasileiros), e continua com os qualificativos: “fenômeno dos mais lamentáveis e dos mais calamitosos”, “esplendor com algo de funéreo”, “prósperos cursinhos”, “pobres diminutivos portugueses”. Neste trecho do texto aparecem modalizações: “talvez ajude a compreender”, “ao que se pode chamar”. Também o autor começa a empregar o sarcasmo, na expressão entre parênteses que se refere aos cursinhos, recurso que será reutilizado em várias partes do ensaio.
No quinto e sexto parágrafo, o ensaísta volta a assumir o papel de professor e explica sua proposta e os insignificantes resultados sobre o tema das apostilhas, empregando a primeira pessoa do singular: “Como professor, eu estava”, “propus que se dirigisse”, “quando eu próprio voltei ao assunto”, “não creio”. Outras marcas de subjetividade são: “eu estava sempre sugerindo”, “- sugestão quase sempre acolhida com indiferença”, “a circular só viria a ser emitida quase um ano depois”, “E, mesmo que desse algum,”, todas estas expressões aludem aos escassos efeitos decorrentes de suas ações como professor.
No sétimo parágrafo, Lins começa a expor algumas das razões, econômicas e legais, pelas quais considera que as apostilhas são um problema para os brasileiros, referindo-se a estas com diversas expressões: essa pirataria, folhas mimeografadas e grampeadas. Há só uma marca de primeira pessoa singular, “conheço um colégio privado”, mas também há outras marcas de subjetividade como as itálicas em “instituições que não cobram pelas apostilhas”, uso de parênteses para acrescentar esclarecimentos “(educandários ou particulares)”, “(conheço um colégio [...] produzindo apostilhas em série), uso de adjetivos como “preços extorsivos”, “trabalho gratuito”, “máquinas bastante sofisticadas”, “folhas mimeografadas e grampeadas”, “anuidades elevadas”. Lins utiliza todas estas marcas para expressar a degradação humana que implicam as apostilhas, tanto para seu organizador, quanto para o leitor, as pessoas que são exploradas para fazê-las e os autores dos livros que são prejudicados econômica e intelectualmente. Também há uma restrição em “em muitos casos, usando, para fabricá-las,” com isto o autor quer dizer que essa não é a única maneira em que são feitas as apostilhas, e também critica e denuncia o benefício econômico dos produtores e o trabalho gratuito dos alunos.
O seguinte parágrafo retoma as causas desenvolvidas no parágrafo sétimo, e adianta que há outras razões ainda piores.
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