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O Elemento


Enviado por   •  11 de Febrero de 2014  •  1.571 Palabras (7 Páginas)  •  126 Visitas

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Há muitos anos assisti na TV a um filme antigo, daqueles em branco e preto, de cujo nome já me esqueci. Mas não me esqueci de um trecho do filme em que um personagem explica a outro o seguinte.

As pessoas, diz ele, em geral trabalham fazendo coisas de que não gostam, apenas para ganhar dinheiro que custeie as necessidades básicas da vida e, quem sabe, permita que, no tempo livre (à noite, nos fins de semana e feriados, nas férias, na aposentadoria), possam fazer aquilo de que realmente gostam e que lhes dá prazer.

É muito difícil ser bem sucedido no trabalho, explicou ele, se a gente não gosta do que faz e, por conseguinte, trabalha sem nenhum prazer.

A chave do sucesso, continuou ele, está em descobrir o que a gente realmente gosta de fazer, e que faria por puro prazer, mesmo que ninguém nos pagasse para fazê-lo, e, daí, encontrar ou inventar formas de ganhar dinheiro fazendo aquilo.

Se conseguirmos realizar essa proeza, conclui sabiamente, passaremos a vida inteira sem sentir que estamos trabalhando, nunca precisaremos nos aposentar, e, possivelmente, seremos bem sucedidos e realizados na vida profissional e felizes na vida pessoal.

Cada animal tem um elemento no qual vive naturalmente – no qual, digamos, se sente em casa. Para os pássaros, é o ar. Embora vivam bem na terra também, é no ar que parecem se realizar. Para os peixes, por outro lado, é a água. Para boa parte dos demais animais, e para nós humanos, o elemento é a terra. A terra é a nossa casa. (Também a Terra o é, mas aqui estamos falando na terra, com minúscula, algo que se contrasta com o ar e a água.)

O ser humano, porém, tem características especiais. Sua “programação genética”, por assim dizer, é relativamente aberta, o que lhe permite definir, no devido tempo, que tipo de indivíduo deseja ser. Mas ele nasce, segundo tudo indica, não uma tabula rasa, na qual qualquer coisa pode ser escrita, mas com certas características pessoais e capacidades ou aptidões naturais (como a de aprender) que o fazem único e inconfudível entre as espécies animais.

Para se desenvolver como ser humano, o bebê humano precisa, em interação com o seu meio social, cultural e natural, desenvolver capacidades adicionais, que são adquiridas ou construídas através da sua capacidade ou aptidão natural para aprender. A essas capacidades adquiridas ou construídas dá-se hoje o nome de competências. Uma competência é um conjunto de habilidades adquiridas ou construídas pela aprendizagem que permite ao ser humano fazer coisas que ele não sabe fazer naturalmente – como, por exemplo, falar uma linguagem verbal específica, ou ler e escrever o código escrito dessa linguagem.

No devido tempo, o ser humano precisa definir para si um projeto de vida: isto é, ele precisa decidir que tipo de vida quer ter ou levar, que tipo de pessoa gostaria de ser… O processo que chamamos de educação é, em última instância, um processo de desenvolvimento humano que abrange dois componentes:

• Um, a definição da vida queremos ter ou levar, da pessoa que gostaríamos de ser;

• O outro, a busca das competências necessárias para viver essa vida e ser essa pessoa.

[Nessa visão da educação não somos nós, os educadores, que definimos o tipo de ser humano que queremos “formar”, mas, sim, a criança que escolhe que tipo de pessoa ela quer ser, vale dizer, que ela pretende tornar-se.]

Algumas competências básicas, como falar uma linguagem verbal, são essenciais para qualquer projeto de vida. No tipo de sociedade desenvolvida em que vivemos, ler e escrever o código escrito dessa linguagem também são competências essenciais para qualquer projeto de vida. Muitos argumentam que manejar tecnicamente as tecnologias digitais, e saber o que fazer com elas, também são competências essenciais aos seres humanos privilegiados que vivem no Século XXI, em que essas tecnologias estão por toda a parte.

Mas, depois dessa excursão a terreno próprio, voltemos ao livro de Sir Ken Robinson.

Ele não tem dúvida (e eu também não tenho, embora reconheça que essa questão, como qualquer outra, esteja aberta à discussão) de que todos nós nascemos com certas capacidades e aptidões naturais adicionais, isto é, além da capacidade ou aptidão de aprender. Normalmente chamamos essas capacidades ou aptidões adicionais de talentos naturais, ou dons – um dom é algo que nos é dado, que não fomos nós que adquirimos ou construímos. Uns têm o dom da comunicação verbal (oral ou escrita), outros o dom de lidar com números, outros o dom da música (que se desdobra em vários dons subsidiários), outros o dom da dança (que também se desdobra em vários dons subsidiários), outros o dom do esporte (que igualmente se desdobra

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