Projeto amigos conectados: uma abordagem interdisciplinar e intercultural
Enviado por Francisca Galeana Salgado • 17 de Febrero de 2017 • Examen • 2.278 Palabras (10 Páginas) • 236 Visitas
Projeto amigos conectados: uma abordagem interdisciplinar e intercultural
Francisca Andréa Ribeiro da Silva[1]
Francisca Galeana Salgado[2]
RESUMO: Este artigo pretende discutir sobre equívocos cometidos no tratamento do indígena na atualidade, à luz do teórico José Ribamar Bessa Freire. Com isso, propor um projeto interdisciplinar e intercultural, baseado nas teorias de Maria A. Bergamaschi e Cláudia H. Barreiros. O projeto “Amigos conectados” consiste em uma iniciativa de intercâmbio cultural entre alunos de duas escolas: uma não indígena e outra indígena, através de correspondências, utilizando estas para a interação e construção de conhecimentos, incentivando o respeito às culturas e a convivência desprovida de preconceitos, conhecendo estilos de vida de cada cultura, em que os agentes envolvidos aprendam a lidar com as diferenças e transpassem as barreiras dos estereótipos.
PALAVRAS-CHAVE: ensino-aprendizagem, interdisciplinaridade, interculturalidade.
Introdução
Essa ideia surgiu de uma necessidade de haver uma comunicação entre alunos de diferentes contextos, promovendo uma relação intercultural na comunidade escolar, já que tem se verificado que a comunidade não indígena mostra uma visão estereotipada e idealizada da comunidade indígena. Em contrapartida, a comunidade indígena apresenta dificuldades de se relacionar com pessoas não indígenas. Sendo assim, propõe-se, adiante, a discussão sobre a visão romantizada que os não indígenas possuem sobre o indígena. Na busca de que tal visão não persista, é que, abaixo, construiu-se um projeto em que em os alunos de diferentes escolas (uma indígena e outra não indígena) possam interagir no intuito de aquebrantar as barreiras e incitar o respeito ao outro.
Ressignificando o outro e o aprender
No Projeto Amigos Conectados, os grupos terão a oportunidade de olhar de uma maneira diferente para o outro e se enxergar neste outro, encontrando afinidades em que se reflita a essência humana, criando caminhos para haver uma equidade, em que não ocorra a valorização de uma cultura em detrimento da outra, desconstruindo, assim, o estereótipo da visão veiculada na comunidade escolar não indígena, onde se propaga um perfil de indígena romantizado (incluído nos livros didáticos), em que se apague a concepção de indígenas do passado, como se esse vivessem isolados das transformações sociais que ocorrem no mundo atual. Para elucidar melhor essa questão, vejamos:
Os povos indígenas em seus constantes movimentos de interlocução com as sociedades não indígenas têm mostrando que não querem um processo escolar intercultural só para si e para suas escolas, mas também advogam que a conquista de direitos passa por modificações na educação escolar da nossa sociedade, aspirando que suas histórias e suas culturas sejam ensinadas ou ressignificadas no seio dessas instituições. (BERGAMASCHI, 2012)
É importante ressaltar que essa ressignificação não é algo fácil (mas que pode ser pensada e iniciada em sala de aula), devido à visão da maioria das pessoas não indígenas, a qual inclui uma série de equívocos, que são abordados por José Ribamar Bessa Freire (2009) em seu texto: “Cinco ideias equivocadas sobre os índios”. O autor relata que a sociedade não indígena tende a enxergar o índio de maneira genérica, em que as várias etnias constituíssem um único bloco, o qual compartilha de uma só cultura, língua e crenças, não considerando que cada etnia possui suas especificidades próprias e que assim devem ser vistas. O segundo equívoco que José Ribamar destaca é a ideia de a cultura indígena ser considerada atrasada e primitiva, veiculando uma impressão de uma cultura pobre e de pouca criatividade. Já o terceiro equívoco é o de que a cultura é congelada, como se essa cultura não tenha sofrido modificações, como se ela se mantivesse igual à época da colonização portuguesa, no caso do Brasil. O quarto é a visão de que os índios pertencem ao passado, como se eles não existissem no presente e por último é a ideia de que o brasileiro não é índio, negando a contribuição de cada grupo indígena para a formação da identidade do povo brasileiro.
Vale destacar que tal projeto (o qual veremos a seguir) não só aborda a interculturalidade, num prisma da didática crítica inter/multicultural, numa proposta pedagógica atual, como Vera Candau (1983 apud BARREIROS, 2006) sugere, em que o processo ensino-aprendizagem seja situado histórico, social e culturalmente, mas também englobando a interdisciplinaridade, possibilitando a abordagem de diferentes áreas do conhecimento.
Tanto o caráter inter/multicultural quanto o interdisciplinar serão verificados adiante, a partir do momento do detalhamento das atividades propostas pelo projeto, ou seja, através da metodologia. Então, vejamos como isso ocorrerá.
O Projeto Amigos Conectados
O primeiro passo trata-se da escolha das turmas que irão participar do projeto. Isso poderá ser pensado pelos professores dos dois contextos, os quais já devem ter compartilhado sobre os objetivos e a metodologia, discutindo os passos e os resultados esperados. Vale lembrar que, para que o projeto tenha êxito, será necessário uma parceria entre os professores, ou seja, que ambos conversem sobre as particularidades de suas turmas, podendo assim, adequar as atividades propostas deste projeto às necessidades contextuais das turmas, já que o que iremos propor neste trabalho não se trata de uma receita, a qual deve ser seguida à risca, mas de propostas sugeridas, podendo haver modificações conforme a situação contextual, verificando a série escolar desses discentes.
Sugerimos que as turmas sejam do 7º ano. Feito essa delimitação deverá ocorrer a apresentação do projeto aos alunos, os quais podem opinar e sugerir outros caminhos. Cada professor anotará tais sugestões e conversarão entre si (esse diálogo pode ser on line, para facilitar e diminuir os custos de deslocamento), verificando se haverá ou não necessidade de modificações. Depois, passarão a executar o projeto juntamente com os alunos. O primeiro momento dessa execução consiste em trabalhar os gêneros textuais: carta pessoal e e-mail.
Devemos, nessa etapa, questionar junto aos alunos sobre o que eles sabem de carta pessoal e e-mail. Se já utilizaram esses gêneros para se corresponder com alguém. Ou se nunca viram ou ouviram falar. Certamente, os alunos irão opinar e juntos, nessa conversa, irão construindo, de certa forma, o entendimento sobre a temática. O professor pode ir anotando no quadro as considerações que os alunos estão fazendo e ir mediando essa construção, observando o que há de semelhante e o que distingue a carta do e-mail.
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