Revista Da Rede De Humanização Do Desenvolvimento
Enviado por melissa.andrade • 18 de Enero de 2014 • 1.616 Palabras (7 Páginas) • 326 Visitas
O LADO INTERNO DO DESENVOLVIMENTO
Melissa Andrade
O progresso científico e racional próprios da sociedade industrial e moderna deixou de considerar o ‘lado humano’ ou interno do que se convencionou chamar como desenvolvimento. Mas o que seria um desenvolvimento realmente humano? Na falta de uma definição clara, o termo ganha múltiplas interpretações, mas se encontra num ponto comum, quase intuitivo, tratando do desenvolvimento que considera o indivíduo que floresce a partir de suas potencialidades. Olha para o sujeito que está por trás de processos impessoais e mecânicos analisados do ponto de vista social e econômico. Este artigo vai tratar do que seria esta ‘humanização do desenvolvimento’, propondo possíveis caminhos para sua materialização.
Definindo a humanização do desenvolvimento
Ao se abordar subjetividade e o ‘lado interno’ do desenvolvimento, o pressuposto é de que quando o indivíduo mergulha de maneira mais profunda em si mesmo pode mais facilmente encontrar o ‘humano’, expresso em mais visão e empatia. Fala-se aqui de um centro de lucidez, de um ponto alto da consciência humana.
De maneira geral, a experiência humana pode ser dividida em três níveis. Num nível mais externo, seria a experiência sensorial, num nível mais profundo, sua experiência subjetiva psicológica e pessoal, e no centro, ou na camada mais interna, algo de mais humano e valoroso associado a sonhos e arquétipos, algo próprio e real de cada indivíduo
Do ponto de vista conceitual, ‘humanizar o desenvolvimento’ seria reconhecer que, por trás da realidade objetiva e externa da vida, existe outro mundo que se move por trás dele, que trata de sonhos, ideais e valores que remetem o indivíduo ao mais elevado na sua escala de valores e o aproxima do que é universal e racional e menos do que é pessoal e circunstancial. Trataria da vivência do que Kant e Aristóteles chamaram de vida racional, privativa do ser humano e que pressupõe a construção de um eixo interno, onde o indivíduo obtém clareza e visão. Tornar o desenvolvimento humano trataria de dar a ele uma dimensão própria do que é ‘humano’, onde são necessários a auto-realização e o desenvolvimento das potencialidades individuais, o que inclui necessariamente o ser útil ao mundo em que se vive, prestando um papel para a comunidade à qual se pertence.
Humanizar o desenvolvimento implica em olhar para os processos sociais e econômicos externos em combinação com a preocupação central em tornar o ser humano melhor, mais realizado e feliz – senhor de si mesmo, capaz de construir o seu próprio destino de forma clara e consciente. Na psicologia junguiana, isto equivaleria à busca pela individuação; nas artes marciais, a conquista do centro; nas religiões orientais, a iluminação; na pirâmide de Maslow, a auto-realização; evidentemente, com níveis de profundidade distintas. Trata-se do reconhecimento da ‘vida interior’ do ser humano orientado por valores e ideais em oposição à ‘vida exterior’ da realização econômica e social, objetos do desenvolvimento convencional.
A história do pensamento humano facilmente cria dicotomias, entre o intuitivo e o racional, entre as idéias e o modo de produção, entre a subjetividade e a objetividade. Desta forma, urge uma espécie de síntese, onde é necessário combinar o objetivo e o subjetivo, com a devida clareza do propósito e sentido de um progresso que deveria ser mais ‘humano’, onde todas as necessárias dimensões da vida, incluindo os relacionamentos (Aked, 2011) somam para construção de um indivíduo mais completo, num ideal de vida coerente e cheio de sentido.
Trazendo outras perspectivas
Por isso, é preciso reinventar a lógica da economia e do desenvolvimento. Num artigo seminal, o famoso Schumacher, autor do ‘Small is beautiful’, trata da ‘Economia Budista’. Ele explica como a lógica da ‘acumulação capitalista’ e do produzir da maneira mais eficiente possível era diversa do valor que se atribuía ao trabalho numa mentalidade budista, onde este era utilizado como meio para que o ser humano pudesse se realizar. Outro contraponto famoso é Gandhi que, em seus escritos pró-independência indiana, explicava como a Índia se tornaria independente da Grã-Bretanha só na forma, pois todos os valores ocidentais e externos já faziam parte da sua lógica de desenvolvimento (Goulet, 1996).
O cenário de sucessivas turbulências econômicas, sociais e políticas desde 2008 enseja um bom momento para questionamentos sobre o que seriam os rumos do atual desenvolvimento. É preciso, para isso, gerar uma agenda pró-ativa para a materialização desta mudança de mentalidade e prática. Para isso, seria preciso considerar:
1. O Resgate do saber tradicional alinhado com os avanços científicos
Como tratado por Bilibio e Leonardo nesta publicação, existe muita sensibilidade em culturas tradicionais indígenas na sua relação com o ambiente em que vivem, tratando a terra como um ser vivo e numa postura de respeito. Por outro lado, é preciso reconhecer o mérito dos sistemas de gestão e produtividade modernos, os avanços tecnológicos da medicina, os transportes rápidos e as comunicações em tempo real que possibilitam disponibilização de conhecimento e troca de informações sem precedentes na história humana. O problema é o excesso do consumo ou
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