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Arte a Senhora da Vida


Enviado por   •  25 de Febrero de 2016  •  Ensayo  •  1.039 Palabras (5 Páginas)  •  130 Visitas

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A ARTE: SENHORA DA VIDA



Todos os dias, através de livros, filmes, novelas ou até mesmo músicas que buscam um caráter mais narrativo, somos bombardeados com frases como: "E a arte imita a vida." ou "Qualquer semelhança entre o real e o ficcional, é mera coincidência". Pensamentos como estes fazem total sentido se tratarmos os conceitos de vida e arte como os dois lados opostos de uma ponte, que mesmo possuindo pontos em comum, devem ser compreendidos separadamente.

Quando falamos sobre a arte, nos dias atuais, a vemos como um mundo alternativo, que mesmo possuindo algumas verossimilhanças, tem como objetivo levar o expectador para um novo caminho que por alguns momentos faça o indivíduo esquecer de seus próprios problemas.

Mas será que a arte é apenas isso quando atribuída à vida?

De acordo com o pensamento Nietzschiano, a arte é muito mais do que apenas uma válvula de escape para a rotina. Não podemos distinguir uma da outra, já que é a forma como manifestamos a vida, a forma como os indivíduos fazem com que ela valha a pena, vivida, sentida e vista. E essa manifestação é dada, de acordo com o pensamento central do livro O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo, por duas pulsões, provenientes da natureza, que são responsáveis por reger a existência dos homens. As forças apolíneas e dionisíacas.

O ponto de partida do filósofo alemão foram os gregos, mais especificamente aqueles que vieram antes de Sócrates, os Helênicos, já que para Nietzsche, o grande pensador é um marco para a criação da razão, como uma pulsão e, assim, a decadência da tragédia. Porém, o que exatamente esses princípios significam? As manifestações apolíneas são aquelas ligadas principalmente à
harmonia entre o corpo e o espírito. Já as dionisíacas, podem ser consideradas aquelas ligadas à quebra da aparência, a extrapolação dos limites do homem, retirando-os do de seu estado natural, fazendo com que a sanidade por vezes seja deixada de lado.
 
Diferentemente do que muitos pensam, essas duas forças não são dois lados de uma mesma moeda, que conviviam em completa oposição sem nenhum ponto de encontro. Para caracterizar esses dois conceitos, uma metáfora melhor seria a de uma gangorra, parada, com duas pessoas aplicando a mesma quantidade de força, fazendo com que o estado de equilíbrio não seja alterado. Assim era a vida dos helênicos. As pulsões conviviam em ciclo de luta, sem nunca uma se sobrepor. Estímulo é a palavra central, já que uma sem a outra não pode existir, porque as duas forças trabalham como imãs, sempre puxando a oposta para que consigam aparecer como estados individuais. E mais do que isso, unidade é o que caracteriza esses dois espíritos.


Mas quem são Apolo e Dionísio?

Apolo, para os gregos, era visto como sendo o “Deus brilhante da claridade do dia, revelava-se no Sol. Zeus, seu pai, era o Céu de onde nos vem a luz, e sua mãe, Latona, personificava a Noite de onde nasce a Aurora, anunciadora do soberano senhor das horas douradas do dia. Apolo, soberano da luz, era o Deus cujo raio fazia aparecer e desaparecer as flores, queimava ou aquecia a Terra, era considerado como o pai do entusiasmo, da Música e da Poesia’’.

E como de acordo com Heráclito, de Éfeso “
a harmonia é resultante da tensão entre contrários, como a do arco e lira” (fr. 51), temos o espírito dionisíaco se opondo a serenidade e coesão apolíneas.

Dionísio que era fruto da relação entre Zeus e Sêmele, filha mortal do rei de Tebas. Hera, esposa de Zeus, enciumada, enquanto a mortal estava grávida, a persuadiu, fazendo com que ela pedisse a Zeus se mostrasse em todo o esplendor de sua majestade. O deus, mesmo sabendo o que aconteceria ao se revelar a uma mortal, atendeu ao seu pedido, fazendo com que a mulher morresse fulminada pelos raios emitidos de seu corpo. Mas antes que tudo fosse destruído, ele conseguiu salvar seu filho que a moça carregava no ventre e o enxertou em sua própria coxa, terminando assim, a gestação. Quando Dionísio nasceu, a fim de protege-lo de Hera, ele foi enviado a Nisa, onde cresceu e descobriu como fabricar o vinho, viajando por diversos lugares, espalhando seus conhecimentos e expandindo seu culto, dando início as festas em seu nome.

O nascimento da tragédia

“Quando o volume apolíneo é maior, um tipo de arte se configura: a épica; quando o volume dionisíaco é mais intenso, um outro tipo de arte se realiza: a lírica; e, havendo o equilíbrio entre eles, a tragédia aparece.’’ (pag 8, Da arte às forças artísticas de toda natureza.

A tragédia, na época dos Helênicos era a própria vida. Era muito mais do que apenas sentar-se em um teatro para ver a encenação de uma história. Essa separação, o muro que coloca em ambientes distintos o real do imaginário, não fazia parte do cotidiano dos gregos. Para eles, muito mais do que apenas escutar histórias sobre uma mulher que assassina seus próprios filhos buscando atingir o marido ou ouvir o coro cantando sobre anos e anos vividos em um acampamento buscando derrubar um reino poderoso, era viver tudo aquilo.

A vida era, para aqueles homens, uma obra de arte. Por isso que as duas pulsões conviviam de maneira tão perfeita. Porque as pessoas não podiam viver em um mundo completamente apolíneo, completamente coeso sem que isso as levasse a necessidade de algo que pudesse sair dos padrões. E do mesmo modo, um mundo completamente dionisíaco não se mantém firme por um período muito grande de tempo, porque a falta de sanidade, a vida fora de si, uma hora acaba destruindo a carne e, por mais elevado que o espírito esteja, em algum momento ele se deteriora também.

E assim como o nascimento da tragédia é um marco essencial para Nietzsche, sua decadência também o é. Como dito anteriormente, Sócrates é a divisa entre dois estádios artísticos: A Tragédia e a sua morte em função da filosofia, configurando então, o nascimento da razão. A razão funcionaria, assim como os espíritos apolíneos e dionisíacos, como uma pulsão, como um instinto. E assim, com o nascimento da razão, A vida dos gregos não seria mais a tragédia, esta última apenas passaria a ser classificada como um gênero artístico, oposto a comédia.

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