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ESTUDOS COMPARADOS: REPENSANDO SUA RELEVÂNCIA PARA A EDUCAÇÃO.


Enviado por   •  20 de Junio de 2014  •  6.643 Palabras (27 Páginas)  •  176 Visitas

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ESTUDOS COMPARADOS: REPENSANDO SUA RELEVÂNCIA PARA A EDUCAÇÃO.

Resumo: A metodologia comparada é um rico instrumento analítico dos sistemas educativos. Auxiliando a identificar semelhanças e diferenças, amplia o campo de análise e de compreensão da realidade nacional em face da de outros países, particularmente no campo das políticas educacionais nacionais. No entanto, esse recurso é pouco explorado no campo das políticas públicas para a gestão da educação brasileira. É propósito, neste texto, discutir as razões pelas quais os estudos comparados se configuram como uma área de estudos de progressiva importância no contexto da globalização e, pontuando os rumos da educação comparada como área do conhecimento, destacar sua relevância para a compreensão do que vem acontecendo no campo da educação na atualidade.

Palavras-chave: estudos comparados, educação, políticas públicas.

Introdução

O presente texto é parte da pesquisa intitulada “Política de Autonomia da Gestão Escolar: Uma análise comparada entre Brasil e Portugal”. Em nossa investigação, constatamos que, no Brasil, diferentemente dos EUA e Europa, além da escassez de obras sobre o assunto, inexistem bancos de dados organizados e atualizados e centros de estudos especializados em educação comparada. Em sua maioria, os textos que se propõem a realizar tais estudos, a rigor, não poderiam ser situados nesse campo de conhecimento porque, por suas características descritivas, deixam ao leitor a tarefa de realizar a comparação (SAVIANI, 2001).

Apesar das dificuldades decorrentes da escassez de fontes, procuramos organizar algumas informações ou elementos que podem contribuir para o debate. Inicialmente, apresentamos, em linhas gerais, os caminhos percorridos pela investigação no campo da educação comparada, especialmente em seus aspectos teóricos e metodológicos, para, em seguida, desenvolvermos nossa argumentação a respeito da importância da educação comparada na atualidade.

1. O estudo comparativo na educação

Os estudos de Educação Comparada são relativamente recentes. As primeiras obras que poderiam ser consideradas de caráter científico datam do final do século XIX, embora, em 1817, em seu “Esquisse et vus preliminaries d’um ouvrage sur education comparée et séries de questions sur l’education”, Marc-Antonie Jullien tenha esboçado os métodos e as tarefas desse novo campo (GOERGEN, 1991). Esse surgimento tardio relaciona-se ao fato de que, tendo como objeto o sistema de ensino de cada país, esse campo de estudos não poderia existir sem que os sistemas educacionais nacionais se organizassem e consolidassem (LOURENÇO FILHO, 2004).

As primeiras pesquisas destinavam-se a comparar os sistemas nacionais de ensino (especialmente europeus), fornecendo informações para que os diferentes países pudessem copiar uns dos outros o que existia de bom e, ao mesmo tempo, evitar os erros. Assim, ao longo do século XIX, diversos países da Europa, os Estados Unidos e, inclusive, o Brasil encarregaram educadores de empreender viagens para realizar estudos a respeito da educação em outros países .

No decorrer do século XX, ocorreu a sistematização desse novo campo de estudo. Com objeto definido, objetivos, campos de ação, procedimentos e métodos de investigação mais seguros e objetivos, ele adquiriu status de ciência. Ao mesmo tempo, realizaram-se pesquisas nacionais, internacionais ou regionais, organizaram-se congressos, conferências ou colóquios e publicaram-se numerosas obras, revistas, anuários, bibliografias e monografias sobre temas variados. Difundiram-se, assim, dados e informações sobre os sistemas educativos dos diferentes países. A maioria das pesquisas era de caráter quantitativo (tabelas estatísticas e avaliações padronizadas) e seus resultados foram utilizados como orientação para a tomada de decisões políticas e para as reformas dos sistemas educativos (BONITATIBUS, 1989).

Embora a educação comparada tenha assumido perspectivas teórico-metodológicas distintas nos diferentes momentos, alguns componentes comuns podem ser identificados: 1) os Estados-nação como referência para a análise dos sistemas educativos ; 2) a ideologia do progresso; 3) a crença na ciência e no conhecimento objetivo para a compreensão dos fenômenos; 4) os princípios comuns e universais sobre o funcionamento dos sistemas educativos.

Ao longo do século XX, tendo em vista contribuir para a solução e prevenção de problemas de ordem pedagógica e administrativa, o trabalho comparativo desempenhou um papel importante na organização dos sistemas educativos nacionais. Fornecendo aos governos informações que orientavam a tomada de decisões políticas, contribuía para a melhoria dos sistemas de ensino.

Entretanto, entre as décadas de 80 e 90, a educação comparada sofreu uma perda progressiva de prestígio, em decorrência das intensas críticas às teorias da modernização, do capital humano e do desenvolvimento dependente, bem como dos próprios resultados alcançados por elas. Nesse contexto, seus métodos, sua validade científica, suas bases teóricas e mesmo suas finalidades foram questionados, sob a acusação de que seus resultados eram utilizados de modo abusivo para legitimar as ações reformadoras em nível nacional, em geral, vinculadas às orientações ou diretrizes dos organismos internacionais (ONU, UNESCO, FMI, Banco Mundial, OCDE).

No Brasil, esse declínio foi acompanhado pela escassez da produção científica e pela exclusão progressiva da disciplina Educação Comparada dos cursos de graduação e pós-graduação em educação . Autores como Goergen (1991), Nogueira (1994) e Martini (1996) atribuem esse declínio a fatores diversos e interligados, tais como: dificuldade de acesso a bibliografias especializadas e atualizadas; dificuldade para realizar viagens de intercâmbios; ausência de bancos de dados atualizados; pequeno domínio de línguas estrangeiras, o que resultava em uma inexpressiva bibliografia traduzida; falta de professores qualificados na área; escassez de grupos de pesquisas e cursos de pós-graduação que formassem professores para a área; falta de clareza do papel dessa área nos cursos de formação de professores, em particular nos de Pedagogia; falta de aprofundamento do estudo do “pedagógico” e ausência de debates em torno do tema; escassez de material para estudo, em conseqüência da produção restrita de pesquisas e da dificuldade de acesso à bibliografia estrangeira, o que dificulta o aprofundamento do conhecimento e da fundamentação das investigações; por fim, a desvinculação entre ensino

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