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Análise De Conjuntura, Correlação De Forças E Cenários


Enviado por   •  23 de Diciembre de 2012  •  46.083 Palabras (185 Páginas)  •  319 Visitas

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Análise de conjuntura, Correlação de Forças e Cenários

Análise de conjuntura: teoria e método

José Eustáquio Diniz Alves1

Introdução

Uma análise de conjuntura é um retrato dinâmico de uma realidade e não uma simples descrição de fatos ocorridos em um determinado local e período. Ela deve ir além das aparências e buscar a essência do real. Porém, a realidade mundial, nacional ou local, é multifacetada, o que torna difícil a sua apreensão à 1ª vista.

O desafio de qualquer análise de conjuntura é perceber as interrelações das partes que formam o todo, pois a totalidade é um conjunto de múltiplas determinações. Neste sentido, a análise de conjuntura funciona como um mapa que nos permite “viajar” na realidade.

Existem mapas mais detalhados ou menos detalhados, assim como existem muitos tipos de mapas: geográficos, rodoviários, ferroviários etc. Cada um é definido em função de um objetivo e tem a sua própria escala. Assim, também, é a análise de conjuntura que busca traçar um mapa da correlação das forças econômicas, políticas e sociais que constituem a estrutura e a superestrutura da sociedade, as quais se vinculam através de relações de poder.

A realidade multifacetada muda se a olharmos de prismas diferentes. Numa sociedade de classe, composta por grupos que possuem interesses antagônicos no interior do processo produtivo, o ponto de vista de classe, não muda a interpretação do real, mas leva a alternativas diferentes de ação e a projetos diferenciados de intervenção social.

Isto não quer dizer que existam várias realidades, mas sim que existem várias alternativas de ação frente a uma determinada realidade. Neste sentido, análise de conjuntura deve compreender tanto a análise das fraquezas quanto da solidez de cada força que participa da disputa política e econômica do dia a dia.

Uma análise de conjuntura não é a descrição de um sonho. Por mais que não se goste de determinadas características da realidade concreta, não podemos ignora-la. Em algumas análises, existe uma tendência de se supervalorizar as forças dos aliados e de subvalorizar as forças do inimigo. Para se evitar isto, é preciso que os campos sejam delimitados, estabelecendo-se as correlações entre as diversas forças.

Uma análise de conjuntura também não é uma propaganda de um programa partidário, apesar de todo programa conter uma certa análise de conjuntura. Tampouco a análise de conjuntura é uma plataforma de reivindicações. Ao contrário, a análise de conjuntura deve buscar dimensionar as forças que participam da dinâmica social estabelecendo quais as alternativas de atuação dentro desta realidade, não sendo nem uma utopia, nem uma “distopia”2.

Uma análise de conjuntura não é uma obra neutra, tomada livre de um posicionamento político, já que a escolha das variáveis de análise pressupõe uma escolha diante da realidade. Todavia, deve-se respeitar a dinâmica social, pois as mudanças conjunturais não ocorrem ao sabor da vontade, devendo-se distinguir as condições subjetivas das condições objetivas.

Uma análise de conjuntura não deve ficar restrita aos limites inerentes de uma dada situação histórica, mas deve mostrar as oportunidades existentes e as possibilidades abertas no movimento contínuo a cada tempo, em um espaço concreto e nos processos de transformação. Uma análise equivocada conduz a ações inúteis ou desastradas, prejudicando as forças do progresso e fortalecendo a ordem conservadora. Portanto, a análise de conjuntura não pode ser baseada em uma visão fragmentada e unilateral, mas deve buscar a integração dos pontos de vista mutuamente complementares do todo compreensivo.

A análise de conjuntura não deve se limitar aos fatos empíricos. O empirismo, ao supervalorizar os elementos da experiência imediata, fica à superfície das coisas e à margem da essencialidade dos fenômenos sociais. Os acontecimentos manifestos nem sempre são os mais significativos e compete ao investigador construir modelos de análise, baseado em princípios teóricos, que possam ter acesso aos fundamentos do real e que seja capaz de ultrapassar a aparência sensível.

A análise de conjuntura não é um “release” dos fatos noticiados na pela imprensa, nem sempre os fatos mais visíveis são as mais esclarecedoras. O reducionismo maniqueísta que vê a realidade a partir de um dualismo simplista também deve ser evitado. É preciso unificar os díspares níveis de análise, compondo um série de principios que dêem conta das contradições da realidade, mas que não exprimam proposições contraditórias ou incapazes de explicar um dado domínio de fenômenos.

Algumas etapas do método de se fazer uma análise de conjuntura

1) Seleção do material empírico, visando focar os principais fatos econômicos, sociais, políticos e culturais ocorridos no período;

2) Análise deste material buscando identificar os elementos comuns que representam novas tendências3 e as invariantes da conjuntura;

3) Exame do material contrapondo uma análise das partes para o todo e do todo para as partes;

4) Explicação da correlação de forças entre os diversos atores sociais e como as alterações nesta correlação explicam a dinâmica do movimento social;

5) Análise sincrônica dos elementos da contemporalidade;

6) Explicação das mediações que traduzem as aspectos abstratos dos vetores de transformação capazes de agregar os fatos dispersos da realidade concreta;

7) Comprovação empírica4 das tendências enunciadas nos itens anteriores;

8) Análise diacrônica da evolução longitudinal dos dados e fatos;

9) Apontar tendências futuras que poderão ser checadas e verificadas em análises posteriores;

10) Apontar opções de ação e de atuação social diante do quadro de correlação de forças nacional e internacional.

Conjuntura vs. Estrutura

Análise de conjuntura quer dizer análise de conjunto. É a análise das partes que formam um todo complexo. A estrutura, por sua vez, é a interligação do conjunto formado pela reunião das partes ou elementos de uma determinada ordem ou organização. Qual é, então, a diferença entre estes 2 termos?

Uma 1ª diferença importante encontra-se na perspectiva temporal da análise. A conjuntura está relacionada com os ciclos de curto prazo da Economia e da Política, enquanto a estrutura está relacionada aos ciclos de longo prazo. Uma mudança estrutural geralmente requer várias mudanças conjunturais, enquanto estas últimas podem ocorrer sobre a mesma base estrutural.

As transformações radicais da conjuntura

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