A Questão De gênero No Desenvolvimento Agroecológico
Enviado por diacisio • 25 de Marzo de 2013 • 1.199 Palabras (5 Páginas) • 329 Visitas
A questão de gênero no desenvolvimento agroecológico
(Maria Emília Lisboa Pacheco)
As mulheres adquiriram historicamente um vasto saber dos sistemas agroecológicos. Desempenham importante papel como administradoras dos fluxos de biomassa, conservação da biodiversidade e domesticação das plantas, demonstrando em muitas regiões do mundo um significativo conhecimento sobre as espécies de recursos genéticos e fitogenéticos, e assegurando por meio de sua atividade produtiva as bases para a segurança alimentar.
Nas últimas décadas, esse reconhecimento passou a manifestar-se em fóruns e acordos internacionais. A Convenção da Diversidade Biológica, por exemplo, menciona o “papel fundamental da mulher na conservação e na utilização sustentável da diversidade biológica, afirmando a necessidade de sua plena participação em todos os níveis de formulação e execução de políticas para a conservação da diversidade biológica”.
Esse papel é tão mais importante quando consideramos que a conservação e o uso da biodiversidade constituem-se como ponto-chave para a defesa da agricultura e do agroextrativismo familiar, bem como, simultaneamente, que a biodiversidade é protegida pela diversidade cultural.
As influências sobre o pensamento agroecológico estão ancoradas nas ciências agrícolas, no movimento ambientalista, na ecologia, na antropologia, nos estudos sobre desenvolvimento. Só nos últimos anos, porém, a perspectiva de gênero vem sendo associada ao debate agroecológico.O conceito de relações sociais de gênero, uma conquista das lutas feministas, trouxe várias contribuições para a explicação teórica da opressão das mulheres:
• as identidades e os papéis masculinos e femininos caracterizam-se como construção histórica e social, sujeita, portanto, à mudança. Essa construção tem uma base material e não apenas ideológica, que se expressa na divisão sexual do trabalho;
• as relações de gênero são hierárquicas e de poder dos homens sobre as mulheres; por meio dessas relações começamos a apreender o mundo;.
• as relações de gênero estruturam o conjunto das relações socais; os universos do trabalho, da cultura e da política se organizam a partir dos papéis masculinos e femininos;
• gênero contribui para superar as dicotomias entre produção e reprodução, entre privado e público e mostra como mulheres e homens estão ao mesmo tempo em todas essas esferas.
Aplicadas ao campo, as análises de gênero têm mostrado a subordinação e a subvalorização do trabalho das mulheres. Têm revelado também que as relações entre homens e mulheres no âmbito familiar e a forma como a família é constituída e reproduzida são tão importantes quanto as relações de classe, quando se trata de explicar as diferenças sociais do campesinato, assim como sua reprodução social.
Incorporar a perspectiva de gênero, articulada com uma concepção agroecológica apoiada na agricultura e no agroextrativismo familiares, requer um triplo desafio: revisão de nossas categorias de análise, revisão de nossas práticas político-educativas e aprofundamento das críticas às propostas de políticas públicas para a proposição de alternativas.
Há elos a estabelecer entre os debates sobre sustentabilidade e as relações sociais de gênero. Ambas as noções colocam-se contra uma visão produtivista e economicista. Por um lado, a noção de sustentabilidade remete ao campo das lutas sociais, de novas relações entre sociedade e natureza, numa perspectiva democrática, para a contestação da exploração de classe e da injustiça social e ambiental. Por outro lado, a crítica ao paradigma dominante da economia, feita pelo pensamento feminista, quer insistir na perspectiva segundo a qual um exame do desenvolvimento sustentável deve levar em conta as dimensões sociais e de gênero, e integrar nesse conceito uma distribuição justa dos recursos materiais, conhecimentos e poder, um sistema de valoração econômica adequado e a sustentabilidade do meio ambiente.
Problematizar diagnósticos e propor mudanças, eis aí uma grande tarefa. A Agenda 21, em seu Capítulo 24, preconiza a necessidade de desenvolvimento de bancos
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